Nos 20 anos do Desiderata, jovens alertam para as dificuldades do atendimento na Saúde

Participantes da mesa “Adolescentes, como alcançar e cuidar?” fazem foto com plateia no evento de 20 anos do Desiderata.

Uma das mesas de destaque do evento de 20 anos do Desiderata, realizado no dia 3 de agosto, teve como tema a saúde de adolescentes e jovens. Esses grupos, que vivem a transição da infância para a vida adulta, muitas vezes acabam sendo invisibilizados e não recebem a devida atenção sobre as demandas e dificuldades específicas dessa etapa da vida, inclusive na área da saúde.

Antes do debate realizado na mesa “Adolescentes, como alcançar e cuidar?”, o grupo de jovens ativistas do RAP da Saúde apresentou a esquete “A dificuldade do acesso dos jovens aos serviços de saúde”. Na encenação, eles usaram o humor crítico para falar de situações cotidianas enfrentadas quando buscam atendimento na Atenção Primária à Saúde.

Ativistas do RAP da Saúde apresentam esquete “A dificuldade do acesso dos jovens aos serviços de saúde”.

Na sequência da esquete, teve início a mesa, com participação de Gabriel Brandão, comunicador e facilitador do RAP da Saúde e da ONG Cidadania, Estudo, Pesquisa, Informação e Ação, a CEPIA; Kézia Sampaio, promotora de saúde, ativista, líder comunitária e integrante do RAP da Saúde; Nathalia Amorim, facilitadora do RAP da Saúde; Vitória Rodrigues, técnica em Gerência em Saúde, ativista e comunicadora; e do médico hebiatra Felipe Fortes, que também foi responsável por mediar a conversa.

Felipe abriu a discussão alertando para a falta de atenção e escuta dos adolescentes e a necessidade de os profissionais de saúde estarem mais atentos a esse grupo.

“O título da mesa de hoje, ‘Adolescentes, como alcançar e cuidar?’ já fala um pouco como a gente encara a adolescência na sociedade, na saúde. É meio nebuloso, meio invisibilizado, não é? A gente não enxerga o adolescente, a gente não deixa falarem. A gente estuda pouco do ponto de vista científico, inclusive”, explicou o hebiatra.

Mediador da mesa, o hebiatra Felipe Fortes destaca a importância de escutarmos mais os adolescentes.

O protagonismo juvenil foi apontado por Felipe Fortes como a principal solução para que os adolescentes não sejam invisibilizados ou tenham suas demandas desconsideradas no atendimento. Ele citou ainda a experiência da atuação dos jovens promotores de saúde, especialmente na atenção primária, que é onde mais de 85% dos problemas da população são solucionados. O lema de Felipe é “não fazer saúde pelos jovens, mas com os jovens”. Por isso, ter jovens participando da mesa tornou a reflexão ainda mais importante para os presentes no evento de aniversário do Desiderata.

Nathália Amorim relatou que, como facilitadora do RAP da Saúde, aprende com os adolescentes e não só ensina. Segundo ela, o jovem promotor da saúde se torna uma referência no território onde atua e muda a perspectiva sobre a própria vida.

“A gente entende que esse lugar do adolescente e do jovem não tem que ser sempre de estar recebendo, ele também tem algo para poder entregar. E a gente bate muito na tecla, no RAP da Saúde, que ninguém dá voz para esses jovens e adolescentes. A gente não precisa que ninguém dê voz. Na verdade, a gente precisa mais que dê os ouvidos, porque eles nunca pararam de falar”, lembrou Nathalia.

Nathalia Amorim, facilitadora do RAP da Saúde, fala sobre o projeto e protagonismo juvenil.

Gabriel Brandão apontou um outro aspecto importante do protagonismo em projetos como o RAP da Saúde: acolher jovens da periferia e retirá-los de uma bolha, abrindo caminhos com possibilidades.

“Você pode fazer tudo a partir do RAP. Você pode fazer arte, política, estudar sociologia, pode fazer cultura, você pode estudar comunicação, artes visuais…Então eu acho que a principal missão do RAP é ajudar o adolescente e o jovem a ter esse autoconhecimento, essa autodescoberta”, exemplificou Gabriel.

Gabriel Brandão: RAP da Saúde abre possibilidades para o jovem se conhecer e desenvolver potencial.

Késia Sampaio lembrou que a perda de uma amiga, por falta de diagnóstico precoce de diabetes, a levou a desenvolver um projeto de cuidado com os estudantes da escola pública onde estudava. A vivência contribuiu para que, mais tarde, ela integrasse o RAP da Saúde. Késia destacou ainda a importância de enxergarem os jovens a partir das potencialidades, dando também oportunidades.

“Eu me coloquei nesse papel de liderança, de ativismo logo cedo, mas eu tive uma pessoa que viu meu trabalho, meu potencial e falou ‘eu conheço um projeto que tem tudo a ver com você’”, lembrou Késia.

Vitorinha do SUS apresentou pautas relevantes para a discussão sobre a saúde de adolescentes e jovens.

Vitória Rodrigues, mais conhecida como Vitorinha do SUS, trouxe à mesa “Adolescentes, como alcançar e cuidar?” cinco pautas relevantes para pensar a saúde dos adolescentes e jovens, sendo uma delas a soberania alimentar como política pública, tema importante também para o Instituto Desiderata.

“Não necessariamente uma pessoa se alimenta com coisas que não são tão boas porque ela quer. Isso é acessível para ela? A gente precisa muito falar de alimentação na base”, alertou Vitória.

Confira, na íntegra, a mesa “Adolescentes, como alcançar e cuidar?”