Mesa em evento de 20 anos do Desiderata discute papel da informação nas políticas públicas de saúde infantil

Convidados para a mesa compartilharam experiências do trabalho com dados para a criação de políticas públicas.

O trabalho com políticas públicas exige articulação entre setores e mobilização social, mas também precisa de informações qualificadas. Na defesa da saúde pública infantojuvenil, o Desiderata conta com dados confiáveis, embasamento técnico e ciência. Por isso, no evento em comemoração aos 20 anos do instituto, no dia 3 de agosto, uma das mesas teve como tema “O papel da informação na construção de políticas públicas em saúde infantil”.

Participaram da conversa Arthur Aguillar, diretor de Políticas Públicas do IEPS; Eduardo Nilson, pesquisador da Fiocruz; Iara Rolnik, diretora de Programas do Instituto Ibirapitanga; e Thais Junqueira, superintendente geral da Umane. A mediação foi de Ciane Rodrigues, consultora técnica da Organização Pan-Americana de Saúde, na Sala de Situação de Saúde de Niterói.

“No Brasil, a gente tem sistemas de informação em saúde muito bons. Claro que ainda tem muito, muito para avançar, principalmente no que diz respeito à integração desses sistemas, que muitas vezes não conversam bem entre si. Isso gera enorme dificuldade para quem trabalha com análise desses dados, mas, felizmente, a gente os tem”, pontuou Ciane na abertura da mesa.

Iara Rolnik, Thais Junqueira e Ciane Rodrigues na mesa sobre dados e políticas públicas de saúde na infância.

Uma importante base para políticas públicas

Os participantes falaram da própria experiência no uso de dados na construção de políticas públicas e apresentaram ideias sobre como as pesquisas podem ser utilizadas para apoiar projetos que melhorem programas de prevenção, atendimento básico e tratamento no Sistema Único de Saúde. Eles destacaram ainda a responsabilidade tanto na condução de pesquisas científicas, como na forma de divulgação e utilização do que for levantado.

“A informação tem esse papel determinante que pode influenciar na vida de todas e todos”, afirmou Arthur Aguillar.

Iara Rolnik, diretora de Programas do Ibirapitanga, também considera a produção de conhecimento fundamental para o trabalho do instituto, que atua nos eixos de equidade racial e sistemas alimentares. 

“Dados são instrumentos políticos. A escolha de usar um dado, usar uma narrativa, vai ter uma incidência direta naquilo que você está querendo interferir. E, não só isso, como a garantia plena de uma democracia depende basicamente de acesso à informação”, lembrou Iara.

Antes de apresentar percentuais importantes sobre a saúde infantojuvenil, Thais Junqueira, superintendente geral da Umane, associação financiadora do projeto de Obesidade do Desiderata, exaltou o trabalho do instituto nos quatro anos de parceria.

“Essa combinação entre dados, acesso, uso e facilitação do uso de dados, monitoramento, criação da linha de cuidado com capacitação e a incidência no legislativo e no executivo tem se provado vencedora”, destacou Thais.

Em parceria com o Desiderata, Eduardo Nilson conduz estudo sobre custo da obesidade infantojuvenil no SUS.

Estudo Econométrico

Durante a mesa, “O papel da informação na construção de políticas públicas em saúde infantil”, o pesquisador da Fiocruz, Eduardo Nilson, apresentou uma prévia do Estudo Econométrico, que analisa os gastos com tratamento de crianças e adolescentes com obesidade no SUS. A produção está sendo feita em parceria com o Instituto Desiderata.

Eduardo, que por 20 anos atuou na Coordenação de Alimentação e Nutrição do Ministério da Saúde, hoje se dedica exclusivamente a pesquisas. Ele relembrou que a obesidade é fator de risco para várias doenças crônicas, como diabetes, asma, hipertensão, apneia do sono e distúrbios metabólicos, que vão aumentar as possibilidades de idas aos pronto socorros e hospitais, além do tempo de internação hospitalar em caso de problemas de saúde mais graves. Eduardo também destacou os possíveis problemas emocionais gerados pela obesidade, ligados à autoestima e ao bullying, afetando ainda a frequência escolar.

“Quando você pega na literatura riscos relativos para hipertensão e doenças cardiovasculares, encontra normalmente a partir dos 35 anos, mas a gente consegue pensar que logo a gente vai ver essa barra descendo, infelizmente, porque cada vez mais está tendo uma precocidade da obesidade”, alertou Eduardo.

Com relação ao Estudo Econométrico, Eduardo Nilson explicou que vem analisando dados da literatura sobre obesidade infantojuvenil e de levantamentos do SUS para entender melhor de que forma ela afetou os gastos no sistema de saúde pública na década de 2013 a 2022. A pesquisa ainda está em andamento.

Confira, na íntegra, a mesa “O papel da informação na construção de políticas públicas em saúde infantil”.