Epidemia do coronavírus destaca importância da saúde pública

Leia o artigo da diretora executiva do Instituto Desiderata, Roberta Costa Marques

Que mundo teremos após o Covid-19? Ainda é cedo para saber. Mas uma coisa estamos aprendendo: não há solução simples para problemas de saúde pública que abarcam uma enorme quantidade de pessoas, como é o caso desta pandemia. O que estamos vivendo reforça que ter uma saúde pública, para todos, depende de diversos setores da sociedade e de cada um de nós.

No contexto atual, surgiram inúmeras ações valiosas de grupos de organizações e pessoas que se juntaram para apoiar o combate ao coronavírus – caso do Movimento União Rio que mobilizou mais de R$ 15 milhões em apenas duas semanas para ampliar leitos de UTI em hospitais públicos, doar equipamentos de proteção individual aos profissionais de saúde e distribuir cestas básicas de alimentação, higiene e limpeza às comunidades de baixa renda. Por outro lado, quando olhamos o investimento social privado ao longo dos anos, vemos que a saúde ainda não é um campo prioritário de ação. Uma amostra disso aparece  no Censo 2018 do GIFE – Grupo de Institutos e Fundações Empresariais: 84% dos seus associados têm como foco a educação e apenas 37% investem em projetos de saúde e bem estar, apontando o enorme abismo entre as duas áreas, mesmo sendo ambas direitos básicos essenciais para o pleno desenvolvimento humano.

Em um momento como este, fica evidente o papel do Sistema Único de Saúde (SUS). Além da assistência nos postos de saúde, urgências, emergências e hospitais, é através do SUS que são realizadas as ações e serviços das vigilâncias epidemiológica, sanitária e ambiental, essenciais para o controle de doenças como o Covid-19. É no SUS que são realizadas ações de prevenção e promoção da saúde, que são importantes para melhorar a vida das pessoas, controlar doenças crônicas não-transmissíveis no futuro e não sobrecarregar o sistema hospitalar. Ainda assim, somos um país que privilegia a doença à saúde em termos de investimentos financeiros e atenção dos governantes, que têm pouco interesse em ações de longo prazo e pouca visibilidade, como as de prevenção e promoção da saúde.

É fato que nosso sistema de saúde é um dos maiores e mais complexos do mundo e possui recursos escassos para seu pleno funcionamento. Agregado a isto, os mecanismos jurídicos para apoiar o setor público com parcerias ou doações ainda é restrito, com poucos incentivos e pouco transparente. E isso fica ainda mais evidente em tempos de crise, quando todas as decisões precisam ser tomadas muito rapidamente.

Essas dificuldades, porém, não devem ser um entrave para ampliarmos o investimento em saúde. Pelo contrário, temos, agora, uma oportunidade para ampliar o entendimento geral sobre a importância da Saúde Pública para a vida das pessoas e o futuro do planeta, criar um ambiente mais favorável às doações e parcerias com o setor público, e valorizar o trabalho da sociedade civil organizada no fortalecimento e monitoramento de políticas públicas voltadas para a área.